segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Por Martinha Ferreira

Adoro o teu riso ao telefone.

Imagino a tua boca descontrair e os teus dentes cor de marfim sentirem os lábios a deslizarem sobre eles e revelarem o brilho quase canino que é só teu.

Imagino-te rodar languidamente sobre os ombros e desenrolar o fio do telefone que não pára de tocar. A brancura dos teus dedos perde-se nos lençóis da manhã próxima e a tua pele arrepia-se sempre que a aragem assobia ao de leve por cima da epiderme nos calcanhares.

Soltas uma leve melodia rouca e gasta como a qualidade de imagem das curtas-metragens e ris-te perdida de tão só e tão pequena num mundo tão cheio e feito à escala de alguém que mede mais três palmos que a tua pessoa.

“Juro.” Não juras mas juras, que algo que não foi jurado irá ser por ti – que não juras mas juras na mesma. Desencadeia um sorriso virtual, sente a respiração do telefone no teu ouvido e rasga as falanges pelo cabelo.

Um estrondo – porque rodaste para além da borda da cama como rodas habitualmente fora dos limites e arranhas aquilo que não te pertence – um por um ouves os ossos embaterem na madeira como marionetas fora do palco e manchaste o cal dos teus dentes com hemoglobina de um tecido labial frágil. Corres os dedos pela boca quando libertas a mão e voltas a compor alto e bruscamente como se de alguma debilidade mental sofresses; quebras o silêncio mais uma vez.

Adoro o teu riso ao telefone.

3 comentários:

Tamara Queiroz disse...

Adoro este estilo de escrita. Para mim tem forma sinuosa envolvente.

E confesso uma impulsiva vontade de sorrir ao término da leitura.

Anônimo disse...

Ora, muito obrigado pelas palavras :)

Martinha

Thiago Duarte disse...

Para mim é um privilégio ter os textos da Neko cá no meu espaço.

Beijos.