Um amigo me disse que a maioria dos daltônicos só descobre que faz parte do grupo quando pinta a grama de vermelho, num trabalho escolar. Um exemplo muito claro e indiscutível que nem todos observam o mundo da mesma forma.
Mas se pensarmos no assunto uma pessoa que seja muito baixa ou outra muito alta também têm uma forma peculiar de observar o mundo. E não é somente uma questão de ver, é algo muito mais abrangente. Estas pessoas têm noções de conforto, de espaço e de distância bem únicos. Facilidades mais específicas e dificuldades distintas das pessoas com estatura média.
É óbvio que se alguém é mais fraco vai achar uma caixa pesada e que um que precise de óculos enxergará com menos precisão quando estiver sem eles.
Escolhi estes exemplos porque são tópicos que aparentemente não mudam nada, pois se fôssemos falar de diferenças corporais mais peculiares isso seria gritante.
Sabemos que alguém sedentário e acima de seu peso, se cansa mais rapidamente que um sedentário com pouco peso e assim aceitamos mais facilmente que as pessoas lidem com o mundo de maneiras específicas no plano físico e isso é uma incoerência pois essas são as características que menos causam impacto em nosso relacionamento com o mundo e com as pessoas.
Para nós, ainda parece muito complicado sequer aceitar que diferenças energéticas, emocionais, mentais e até mesmo de essência farão com que nossa percepção do mundo e consequentemente nossa interação com todo o universo seja especialmente particular.
Essas peculiaridades podem passar despercebidas e as entendemos como frescuras, só porque não são óbvias. O mais engraçado é que ao mesmo tempo quando essas nossas diferenças não são compreendidas nos sentimos ofendidos e injustiçados.
Se duas pessoas tiverem a mesma idade, o mesmo peso, o mesmo cotidiano, mas uma delas, por exemplo, respirasse mais superficialmente, só isso bastaria, ela já teria impressões e reações bem distintas da outra. Teria menos vitalidade e as escadas que um subiria sem esforço já seria um problema para o outro. Talvez chegasse atrasado no trabalho e isso modificaria seu relacionamento com os superiores.
Mudanças aconteceriam se o diferente entre estes dois não fosse a capacidade pulmonar e sim o emocional. Alguém com o ego inflado age totalmente diferente de outro que tenha baixa auto-estima numa batida de carros e em tudo o mais, até na maneira de pedir um copo de água. Citando exemplos assim é fácil perceber que as particularidades em nossos aspectos mais sutis (emocional, mental e outros) provocam relacionamentos muito mais específicos com o mundo do que o simples fato de ser velho ou novo, desportista ou sedentário, gordo ou magro, mas ainda assim temos mais dificuldade em respeitar essas diferenças.
Cada mulher ou homem é resultado de uma combinação única de experiências, relações, pensamentos, condicionamentos e aprendizados. Isso faz com que nossas vontades, nossas respostas, necessidades, metas e tudo o mais sejam extremamente particulares.
Bom, ponto pacífico. Mas por quê lidamos tão mal com o fato de que, e agora a conversa fica pesada, as pessoas não analisam as situações como nós, não querem o que queremos, têm vontades em momentos diferentes.
Às vezes me canso, e confesso, às vezes me divirto vendo discussões nas quais todos estão com a razão, mas estão determinadas em convencer o interlocutor de que ele está tendo alguma alucinação.
Quantas amizades, oportunidades de emprego, de namoro e realizações perderemos até que a idéia óbvia e ululante de que somos diferentes em diversos aspectos esteja enraizada em nosso psiquismo e passemos a respeitar as pessoas.
Simplesmente, de forma sutil ou brutal, vamos impondo nossa forma de ser como um trator desgovernado, às vezes com um sorriso noutra com um soco, mas essa atitude é sempre uma invasão.
Convido-o a passar mais tempo com você mesmo, perceber-se. Respire, alongue, aquiete-se. Escape desse turbilhão mental que o cotidiano nos impõe. E logo notará que somos muito mais do que parecemos. Perceberá um corpo físico, um energético, seu corpo emocional e seu mental. Com prática notará que somos até mais do que isso.
E mesmo dentro de nós existem emoções divergentes, estados de ânimo distintos. Numa hora somos encantadores, noutra uns chatos de galocha. Somos maus e depois adoráveis.
E depois de descobrirmos isso, aprendemos a gostar dessas diferenças internas e aprendemos a mudar o que não gostamos tanto.
E depois de lidarmos bem com nossas próprias particularidades podemos lidar bem com as diferenças das pessoas.
E fazendo isso, passaremos a nos conhecer mais, nosso mundo se tornará mais amplo e veremos várias verdades. Tudo se torna mais bonito e rico. Passamos a nos encantar mais com as pessoas e nossa vida se torna mais gostosa e mais simples. É lindo alguém dizer algo contra o que você está pensando e você conseguir entender o ponto de vista dela. E conseguimos nos entender melhor com as pessoas e com nossas idéias.
Problemas insolúveis se tornam claros e divertidos.
E com a mesma mágica que o sol usa para aparecer todas as manhãs, transformamos nossa existência.
segunda-feira, 12 de maio de 2008
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2 comentários:
Oi Thiago,
Depois da uma olhada no meu blog:
http://www.efemerodelirio.blogspot.com/
As diferenças internas muito mais que brilhantes. Elas vibram no jogo de reflexo espelhar em que, minuciosamente, analisamos o que somos. É perfeita a sua descrição!
Realmente, é lindo, é maravilhoso também compreender alguma situação ou alguém mesmo não agradando ao próprio paladar. Dá uma sensação de amplitude.
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